como dois remos na canoa
meus olhos resguardados
peito sem leito pra repousar
a represa estancada
não deixava minha cachoeira cair
porque cair é fraqueza.
vieram a vida e você
como dois sóis iluminando
dos fios do meu cabelo negro
às palavras trancadas
na escuridão do meu eu
pude, então, atirar-me
ver a beleza da queda
porque cair é chegar
mais perto do céu.
hoje no espelho
vejo campos e mar calmo
vejo a brincadeira dos meninos
vejo avenidas sem trânsito
o abraço dos lábios
livros relidos e amados
o espelho me mostra um homem
que pode ser humano
e operar milagres
nas varandas dos defeitos.
encantar-se é olhar pra trás
e ver que o sonho
dos dias passados
hoje toca meu rosto
com as mãos.