A contenção silenciosa de Américo tornou-o em solidão. Eu tive, entre poucos, o privilégio de ouvi-lo. E como era enriquecedor. Américo não era tímido. O mutismo era, sim, opcional e, após entendê-lo, compreensível. Apesar da pouca idade, Américo cansara do cotidiano, das relações humanas. Para ele, tudo exigia o dobro do possível. Os incuráveis valores da sociedade moderna mutilavam, aos pouco e sempre, as forças físicas e mentais do olindense. "A necessidade da eficiência", resumia ele. Ser eficiente no trabalho, na banda, no sexo. E tudo isso o consumia em preocupações que foram a base para o seu exílio. Renegou trabalhos por sabe que, agora ou mais tarde, outro mais competente o fuzilaria (e não era uma questão de pessimismo). O mesmo com as mulheres. Após desastrosa experiência com Rita - e confissões públicas por parte da moça que puseram a imagem de Américo na merda -, ele desistiu, também, dos envolvimentos amorosos. "Se eu não sou capaz, não consigo ser satisfatório, por que tentar? De tanto cair, a chuva pára", disse-me uma vez.
E assim ia, longe do convívio urbano, cantando filmes e transando livros. Hoje, cinco meses após meu último contato, recebi a notícia de sua morte. Perdeu o controle da sua moto, na rodovia chuvosa, e só parou na traseira de um caminhão recolhedor de lixo. Morreu no lixo. Sem mão de amigo ou choro de esposa. Só, no lixo.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Que trágico, Alex...
ps.: gostei do post anterior desse, também.
Muito bonito.
:*
Postar um comentário