nem precisa vir
mastigando palavras bonitas
ou preocupado com minha bolsa
pesada nos ombros que adoram tua língua
não precisa, não
reparar na minha franja
que eu cortei ontem à tarde
pensando como tudo parece filme
daqueles que a gente tanto gosta.
é só me olhar assim
desse jeito de quem mata o mundo por mim
desse jeito de água morna na chaleira
pronta pra explodir
é só me deixar assim
livre no céu da tua boca
voando no aconchego dessa cama
que eu vou sorrir só de viver.
eu vou ficar puta
quando você perder a paciência
e xingar o garçom desleixado
eu vou me calar
se você não perceber
que está pisando nos meus pulmões
porque ser mulher é tirar,
constantemente,
pés de cima de você.
mas se eu fizer a mala
e disser "vamos"
não haverá quilômetros
não haverá demônios
não haverá tempestade, nego,
que me faça ficar em casa
e não ir decalcar o planeta com você
é só me olhar assim
desse jeito de quem mata o mundo por mim
é só me amar por saber quem sou
é só apertar minha cintura
e só largar quando dormir
que eu vou.
sábado, 27 de agosto de 2016
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
todos os dias o amor diz obrigado.
Um mar de peixes luminosos sob nossos pés e olhos. Do alto da serra, víamos a cidade anoitecida. De corações quentes, ríamos do frio que ultrapassava os casacos e não perdoava minhas orelhas. Eu me sentia aquecido, boiando numa calma piscina de chamas agradáveis que não queimam, mas fazem florescer. Deve ser assim, depois da vida, quando as almas se encontram no sol e o que eram braços se tornam raios e luz.
Porque ali, de gorro e calça jeans suja de sentar no chão, você abria aquele sorriso quando eu falava algo pornográfico mais alto, pra te constranger. Eu me preocupava com as exigências profissionais, mas tua mão no meu cabelo assanhado me puxava de volta para a piscina de chamas agradáveis, onde testas não se franzem. Em alguns momentos, eu pulava da piscina para me trancar nas cavernas que ainda se abrem em mim. Mas voltava, mais leve, mais peito, mais perto como nunca de você.
Nas esquinas da cidade, o mundo espalhado em sotaques do leste europeu, nas bochechas rosadas dos jovens da Inglaterra, dentro da profundidade do olhos de africanos. Nós, em meio ao mundo espalhado num só lugar, observávamos cada faísca de alegria, os gritos das torcidas, hinos também. Também o silêncio de quem estirava a mão e pedia um pouco (de atenção e de dinheiro, nesta ordem). Eu sentia meu peito inchar, encher-se de humanidade, da maturidade que vem com a experiência. E, acima de tudo, sorria, quando olhava para o lado.
Porque ali, de gorro e calça jeans suja de sentar no chão, você abria aquele sorriso quando eu falava algo pornográfico mais alto, pra te constranger. Eu me preocupava com as exigências profissionais, mas tua mão no meu cabelo assanhado me puxava de volta para a piscina de chamas agradáveis, onde testas não se franzem. Em alguns momentos, eu pulava da piscina para me trancar nas cavernas que ainda se abrem em mim. Mas voltava, mais leve, mais peito, mais perto como nunca de você.
Crescemos. Como par, como seres humanos. Cresceram a amizade, a união. O amor. A vontade exagerada de não querer largar. O sentimento bonito de caminhar pelo outro, sem que isso anule nenhuma individualidade. Sem perceber, arrumando a mala ou dividindo os trocados para lanchar, nos mudamos para um novo mundo, arquitetado por nós mesmos. Em meio a tantos mundos, o nosso, em constante movimento circular e recíproco de querer bem.
Saber que seguiremos me faz acordar alimentado pela calma. Vou baixar aquele CD, sem te dizer, pra te pegar de surpresa quando você ouvir que nothing's gonna hurt you, baby. Vou comprar nutella e bolacha e deixar na mochila pra quando não der pra almoçar. Vou morder teu pescoço pra ouvir você falar "isso" quando eu não quiser saber de mais nada que não importa.
Cheguei em casa e ainda não desarrumei a mala. Você sabe o porquê.
quinta-feira, 4 de agosto de 2016
papéis com tinta de caneta.
mordeu os cacos
de vidro das garrafas
atiradas na parede de ontem
a crocância em estalos
nas gengivas
e engoliu
como quem fecha
os olhos e tapa
os ouvidos.
eram nove e meia
quando tirou a camisa
e deitou com as costas
beijando o chão
azulejos e músculos
no jornal da noite,
as notícias de ontem
na radiola da vida
uma agulha quebrada.
perto da meia-noite
quando matou leões
e expôs a carcaça
no salão de festas
monstruosidades
brindadas a drinques
não há mais espanto
no dicionário humano.
de vidro das garrafas
atiradas na parede de ontem
a crocância em estalos
nas gengivas
e engoliu
como quem fecha
os olhos e tapa
os ouvidos.
eram nove e meia
quando tirou a camisa
e deitou com as costas
beijando o chão
azulejos e músculos
no jornal da noite,
as notícias de ontem
na radiola da vida
uma agulha quebrada.
perto da meia-noite
quando matou leões
e expôs a carcaça
no salão de festas
monstruosidades
brindadas a drinques
não há mais espanto
no dicionário humano.
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