sábado, 18 de junho de 2016

somos sonhos.

éramos a vida e eu
como dois remos na canoa
meus olhos resguardados
peito sem leito pra repousar
a represa estancada
não deixava minha cachoeira cair
porque cair é fraqueza.

vieram a vida e você
como dois sóis iluminando
dos fios do meu cabelo negro
às palavras trancadas
na escuridão do meu eu
pude, então, atirar-me
ver a beleza da queda
porque cair é chegar
mais perto do céu.

hoje no espelho
vejo campos e mar calmo
vejo a brincadeira dos meninos
vejo avenidas sem trânsito
o abraço dos lábios
livros relidos e amados
o espelho me mostra um homem
que pode ser humano
e operar milagres
nas varandas dos defeitos.

encantar-se é olhar pra trás
e ver que o sonho
dos dias passados
hoje toca meu rosto
com as mãos.

sábado, 11 de junho de 2016

alma no camina; vuela.

encontram-se sorrisos
nos sons e nas cores
do esmalte das liberdades
não basta-nos andar
posso pular esta poça?
posso voar sobre mares?
andares acima das
cabeças das moças
de saias longas e olhos baixos
bem mais acima dos 
rapazes sem cabeças
que pensam achar
quando nem o pensamento
atingem, por não terem
cabeças.

Deus me livre
da falta de liberdade.

Deus é livre
da falta de piedade.

de fatias, não viverei
hoje vou de meias
amanhã, pé no chão
como eu quiser
nos nós da censura
rabiscar laços
correntes só as dos rios
que navego maravilhado

soltar-se,
saltar em si,
ensolarar os becos
da própria consciência.