domingo, 4 de dezembro de 2011

Ganido.

Como um louco de suores esparsos
garrafas embrulhadas dentro de si,
atrás das luas atrás dos postes,
estrangulo o apetite que rodeia o prepúcio
entre pernas, almas e cabeças sem fim
serafins e estripadores de cornetas pernetas
tetas, ampulhetas , aquela outra que também rima
que mérito têm as rimas se há dor há dias
passam pesados, elefantes e pianos
a vida no corre-corre estagnado das paixões
e eu centralizando suas faltas de sentido em versos pueris
Whitman, Ginsberg, Borges rindo-se da imaturidade dos caracteres (porque eles tudo leem)
casto de precisão e direcionamentos
leitores, alguns, já marchando para as últimas sílabas
permitidas pela paciência curta
outros, observadores, catando girassol em meio ao lixo
ao excesso de imagens fotografadas por metáforas
que quadro crias, quando sugiro
"nossa ternura em galopes, agitando a frieza do lago
longe dos semáforos, na gangorra de deuses
a fumaça das bocas semi-abertas em colapso
fluindo, fluindo, ao ar, aos nossos espíritos"
imaginaste os corpos
apenas as contrações em demasia
ou também a suavidade de um sentimento
sua própria perversidade
assim me entrego momentaneamente aos olhos-juízes
na única certeza de querer sobressair-me
de fazer brilharem os olhos
daqueles cuja ofuscação faz nascer e cultivas os heróis da humanidade
que nada mais são que
meros pacientes terminais.


quinta-feira, 16 de junho de 2011

sobsolo (ou subsolas).

Dentro das águas de tuas olheiras,
que é onde dormem as abraços da cidade,
ressonam facas e baionetas
(são) meus erros em achar
que quando finco semáforos no caminho
é amostra suprema de amor.

Recolher tuas unhas roídas
montar delas mãos
clarear o quadro negro
ser lupa, limpo
anti a lepra que te suga
para longe dos meus antebraços.

Mas segues a vontade dos calcanhares e panturrilhas
ávidos por paisagens inenarráveis
se aventurar
mesmo se, no intermédio, seja necessário pisotear costelas
afastar, aos chutes, polegares
podiam ser os meus (e são)
há mais que pedras.

E depois de amanhã,
quando estiver minha boca
na boca rachada de algum pedaço de chão
onde aterrissarão teus pés
sem o trem de pouso dos aviões?

quinta-feira, 14 de abril de 2011

lately.

cada vez mais
sinto-me munido de diamantes
cujos clarões rebentam do peito e lançam ao mar
da mente
a verdade sobre as escamas
o sabor salgado
das lágrimas das rochas
que somos todos nós
nesta maré cheia de ilusões.

o canto solitário da orca
é o uivo emudecido da mãe orfã
assistindo ao filho ser arracado por predadores tão presas
não há cadeia alimentar
todos devoram a todos
dos hirudíneos aos martelos
o descontrole da fome é o mesmo.

a morte é um degelo.

os homens, icebergs
dez por cento visíveis à superfície
noventa soterrados, escondidos
nas escotilhas de sorrisos sem cálcio
a que preço?
eis a incumbência do aquecimento:
derreter a era glacial
congelada em cada espírito
há anos dormentes, sono de guerra
o cansaço de fuzis.

prefiro sangrar de olhos abertos
tateando por quês e portantos
a gozar na escuridão
que é onde enxergo tantos dos nossos
às gargalhadas, sem perceber os crânios por onde
vagueiam
seus pés encravados.

e de estaca a estaca
e de esterco a esterco
estorvamos o caminho em montanha ao reverso.

(os degraus das escadas são feitos com nossos próprios ossos).

domingo, 23 de janeiro de 2011

uno par.

Jamais te daria meu coração; um dia ele se esgota, e não torna a bater.

Já minha alma, esta sim, engravataria à tua aura, apagando do teu espírito, para sempre, a palavra solidão.

Minha presença indestrutível, como a certeza de pegadas numa praia de domingo.

Na areia dos dias de nossos olhos em insolação, sermos brancura, semeadura incessante de compreensão; o sêmen da paz.

Enxerga além dos sudários, vê quanta tempestade carrega um pingo de chuva, descobre a fronte para observar a retaguarda.

Percebes o estrabismo social, tão generalizado ao ponto de o universo ruir e os homens ainda brincarem carnaval? Não me leve a mal.

Apenas prefiro não pular, sabendo que inúmeros não têm, sequer, o privilégio de mover-se. Dói-me a consciência.

Mas estas frases têm teu endereço, e não merecem envelopar as perfurações deste carteiro enfastiado.

Se o baile de minhas mensagens toca tua coluna como massagem, meu tiroteio apazigua-se a brandos disparos de pistolas-pétalas.

Tuas alegria e emoção são a extensão da minha, vivacidade madura de crianças abnegadas ao dever (direito) de doar-se sem chamado, automaticamente, como um reflexo ao movimento próximo.

Espero dividirmos o corrimão aos mais sublimes degraus da existência humana, divina, o sol desafiado.

Caso caias e me percas de vista, prossegues; tropeçarei também e, em algum ponto inesperado, nos reencontraremos mais fortalecidos, glorificados pelas rugas do caminho.

Para seguirmos, de ombros alinhados, sem mais quedas, ao encontro não do repouso desperdiçado, mas da nova escadaria de uma vida próxima.

Juntos outra vez.