terça-feira, 28 de abril de 2009

Pedestre, mantenha-se à calçada.

"By the sidewalk, it's safer". By the sidewalk, then. Always by the sidewalk.

But I want some road.

domingo, 26 de abril de 2009

Same old story.

Da quietude veio Eleonora, que já havia crucificado Cristo uma vez. Jesus, agora imberbe, transformava em vinho todo líquido despejado em suas mãos, contrariando o gosto etílico de Eleonora. Ela, por sua vez, o contrariava a sua maneira. E como ela era experiente, Pai. Jesus se desnorteara. Nenhum sinal de Deus, do Espírito Santo. Era apenas ele e Eleonora. Ou melhor: era apenas Eleonora. Indagava-se continuamente sobre o paradeiro de seus discípulos, em vão. Percebeu que todos decidiram imitar o triste final de Judas. Nas árvores, tornaram-se galhos, intermediados por uma corda. A facínora Eleonora sentia medo. E um sentimento de vingança, talvez. Convivera uns meses com Lúcifer, cujo amor era a bateria de seus dias descarregados. Mas o anjo renegado possuia outras metas, outros sonhos que divergiam completamente e em nada tinham relação com a, até então, menina. A displicência infernal criou em Eleonora desconfiança e medo, além da permanência de um amor ensanguentado. Não confiava em palavras afetivas, gestos simbólicos, nada. Sempre na retaguarda, qualquer indício de aproximação sentimental era desviado pela frieza da, agora, mulher. E, sim, respirava medo. Quando teria, novamente, aquele brilho nos olhos que tanto a fez agradecer ao Senhor pelos minutos que deslizavam sorridentes? O medo da solidão transformou Eleonora no que hoje ela é. Caberia a Jesus julgar? Não mais.

O filho do Homem maquinava na mente o caminho menos sofrível. E nenhuma, nenhuma das opções aceitavam a ausência de Eleonora. Eleonora era o antídoto. Sem sua dose diária, o planeta sofreria as consequências de um segundo sacríficio de Cristo, dessa vez na calada. Nem discípulos, nem relatos bíblicos para tornar belo o ato do rapaz de 33 anos. Agora, a realidade seria crua e corrosiva. Porque não há beleza alguma em morrer por amor.

terça-feira, 21 de abril de 2009

No acting, just living.

deixa as cortinas se abrirem
que o mundo é espectador

e todo mundo é espetáculo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Ioiô.

Enclausurado no silêncio, observo vidas aproximarem-se à minha. Turistas ansiosos, cuja curiosidade esbarra na invisível capa isolante que envolve meu corpo. Tudo chega, nada estaciona. E eles julgam ser de propósito, minha vegetação. Peço licença e repito: não é por mal. Batalho, diariamente, contra o escudo ulceroso. Tento imobilizá-lo, jogá-lo ao chão, mas me falta a determinação de Davi. Não sei. Talvez o mundo definhou minhas pernas, dilacerou meus joelhos. São tantos os devaneios, Céus, que minha cabeça tornou-se chumbo. Há algum nexo nesses códigos que transcrevo? Precisa ter? Já não me adianta a compreensão das coisas. Não me entendam, é desnecessário. Imprescindível é criar, expor, pôr. Me refugio por cá, então.
Quis reencontrar meu pai. Conversar com o homem que me tornou possível habitar esse abismo ensolarado seria, talvez, simplificador. Uma cerveja nunca desceu tão nauseante. O embaraço daquelas conversas improdutivas me fez desejar extinção à humanidade, à natureza; quis ser Deus para optar por não criar essa galáxia. Não tenho pai, descobri hoje, mais do que nunca. Será que eu, ao ter filhos, serei pai? Não quero ser herói, Batman e Wolverine desempenham bem suas funções. Só desejo ouvir um dia, da boca de um filho meu, alguma frase simples, guardada num frasco, mas que me comprovem o cumprimento da missão. “Você é um pai do caralho”, só. Descarto ‘eu te amo’s, às vezes inibe. Até palavras, se não forem necessárias, podem permanecer trancadas. Apenas gostaria de ter certeza, uma única vez na vida: a de ter sido um verdadeiro pai.

Nunca, nunca imaginei o rumo que minha estadia tomaria com o andar do relógio. O desajustamento dos sentimentos em sigilo, o medo da voz, a insipidez noturna. Eu, mosaico desorganizado, incompleto, que grito mais do que qualquer homem morto, fui, um dia, diversão. A vida leve flutuava no parque da escola. Meu único anseio reservava-se ao tamanho do escorrego. Era tão grande, mas eu também era. Então o enfrentava, sem receio de descompassar e cair de cara na areia. E se caísse, sorriria sujo. Porque nada se equiparava ao vento massageando meu rosto, alegre, agradecendo à gravidade. Hoje o vento necrosa. Perdi a afeição por declives e tenho nojo absurdo de qualquer terreno arenoso. Isso deve passar com o tempo, não é? Deve passar. Ninguém sobrevive, por muito tempo, com infecção no membro amputado. A medicina evoluiu. Isso há de sarar.

domingo, 12 de abril de 2009

Bridges of Madison County

E a chuva varria os resquícios da tua presença
Dividindo nosso rio em dois, de fluências contrárias
Sem embarcações, sem animais
Só água, e vento.

Compreendo-te, porém. Os cabelos brancos não são assim por vaidade; é o preço das responsabilidades e dos deveres que são incumbidos a nós ao longo do caminho. Filhos, casa, empregos. A idade já não nos permite relegar tudo isso. Morro, mas compreendo. E até o dia em que a lucidez de mim se cansar, recordarei, com sorrisos, nossos grandiosos pequenos momentos em Madison County.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Deserto ilhado.

O sol destilava as preocupações da noite anterior, quando Becky sentiu, nos ombros, os cautelosos dedos do homem da máscara. Surpresa e assustada, a garota britânica forçou um doloroso sorriso e perguntou em que poderia ajudar o longervo cidadão mascarado. "Teu hímem tem ímã", vociferou com dificuldade e, centuplicando o absurdo do momento, arrancou dos bolsos um preservativo aparentemente usado e jogou-o aos pés da paralisada Becky. A imigrante, mais estrangeira do que nunca, em diáspora, rumou ao comércio mais próximo, onde fez chover dos olhos. Despercebida, a adolescente acalmou-se o suficiente para deixar o estabelecimento e buscou, só com o olhar, qualquer sinal do pervertido sem face. Para seu alívio, a cênica figura desaparecera.

Em casa, o uísque falsificado em nada ajudava no esvaziamento de sua mente. Nunca havia se sentido tão só, e o convívio consigo mesma nulificava qualquer esperança de dias melhores. O pai só retornaria ao sábado e, por algum motivo, Becky não desejava ouvir sua voz. Preferiu a mudez escura do quarto, onde, sentada no chão, inundava a visão com lágrimas e álcool. O ponteiro do relógio agonizava lentamente. Um, dois, dois e meio, dois de novo, três...nada permanecia retilíneo. O corpo, então, entregou-se ao desgasto e Rebecca, estilhaçada, adormecia.

Tornou horas depois, tão vazia quanto o estômago. Visitou a geladeira, degustou algumas frutas e tentou escrever algo para o trabalho da semana seguinte. Apesar de admirá-lo, Marx não despertava sua literatura. Mandou-o à merda duas vezes e sua dialética três. A ideia de ter que encarar a universidade na tarde seguinte fez toda bebida, ingerida pré-sono, abandonar seu corpo, encharcando os rascunhos e alguns de seus cds. Não acreditava como um único dia poderia ser assim, tão dilacerante, tão filho da puta. Omitiu a ojeriza e resolveu caminhar na praia. A areia úmida folgou as correntes nos seus calcanhares. Fingiu ser livre. O acostamento, quase desabitado, atraiu aqueles passos itinerantes.



Os pés corriam, ainda que descalços.

domingo, 5 de abril de 2009

The not-rolling stone.

Eu pensei que
ao matá-los
a coragem enterrada em todo ser humano ressucitaria em minh'alma
e eu viraria, mesmo tardiamente, ser vivo.

Continuo pedra, e vos peço perdão.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

oco.

































sem eco.