domingo, 30 de novembro de 2008

Da itália ao nada.

Francesca desalojava-se das olfativas mãos surdas de Mark. Os sucessivos recessos afetivos, Romeus esporádicos e promessas de amor intermináveis rompidas desgastaram o ânimo juvenil tão presente no passado de Francesca. O ânimo deu lugar à incerteza. E com a incerteza, ao medo. Medo da incursão, do novo, do constante, dos lépidos olhares cujo destino era o mesmo: as lágrimas.

Queria viajar. Relembrar as noites diurnas com a vó Cida, em Buenos Aires, onde a liberdade era livre e efervescente. Queria poder visitá-la, mas vó Cida finalizara sua missão terrestre há dois anos e descansava, agora, em leitos celestiais. Então Francesca, ao chão, cogitou a possibilidade de ir, de fato, visitar sua avó. Talvez fosse mais rápido e mais simples que ir à Argentina, pensou. Mas, e se não fosse? Ela necessitava de paz. A paz que apenas a morte é capaz de trazer a um agonizante animal em seus minutos últimos de vida. O desconhecimento do pós-morte, no entanto, fazia os dedos trêmulos de Francesca hesitarem ao verem a Taurus PT58S do seu falecido pai dentro de um baú empoeirado onde o velho Stefano escondia da família divergentes utensílios, como um colar de prata e um vestido verde, ambos pertencentes à uruguaia de Punta Del Este com quem o italiano traiu a mulher por vários anos.

O desgastado verde dos olhos ítalo-brasileiros de Francesca analisava a negritude da pistola. Após enorme esforço, tocou o temido objeto. Com o dedo no gatilho, pensou por 3 minutos sobre sua decisão. Fechou os olhos, respirou fundo, três vezes, e apontou a arma em direção à cabeça. Puxou o gatilho.












A arma estava descarregada.

sábado, 29 de novembro de 2008

Provas e Deserto Feliz.

Última semana de aula na faculdade e, conseqüentemente, semana de prova. Trabalhos pendentes, textos e mais textos suplicando por leitura. Despedir-se do ócio, ocultar o cansaço, rejuvenescer a paciência e estudar. Férias coming soon.

Assiti hoje ao novo longa de Paulo Caldas (Baile Perfumado), Deserto Feliz, estréia da semana na cidade. O receio em que previamente me encontrava - por considerar o tema, prostituição, trivial em recentes produções nacionais - foi rapidamente dissipado ao longo da projeção. Filmado em locações pernambucanas e alemãs, Deserto Feliz acompanha a trajetória de Jéssica, adolescente de 14 anos que, por "não agüentar mais", como a própria afirma à mãe, a monotonia da cidade, os abusos do pai e a precária condição em que vive a família, opta por uma escolha comum entre jovens na mesma situação: prostituir-se. E é admirável o simbolismo utilizado por Caldas em uma cena que a menina observa, e perturba, um tatu posto dentro do poço da família, "analogizando" o desejo de ambos: escapar daquele martírio .

Fugindo para a cidade grande (Recife, mas que poderia ser qualquer capital do país), Jéssica divide um apartamento com mais algumas prostitutas, fazendo deste praticamente um prostíbulo. E um detalhe interessante: o edifício escolhido por Caldas para a realização das filmagens, o famoso Holiday, é, de fato, um prédio recifense conhecido por seus moradores exóticos (que o adjetivo não denote qualquer tipo de preconceito, pois o mesmo é inexistente), como prostitutas e travestis. É então que a jovem do interior conhece Mark, um turista alemão, usuário de drogas, por quem Jéssica instantâneamente se apaixona.

O roteiro, parceria entre Caldas, Marcelo Gomes, Manoela Dias e Xico Sá, explora com sutileza os desordenados sentimentos vividos por aquelas mulheres. Em uma das melhores cenas do filme, Pâmela (Hermila Guedes) exterioriza à Jéssica sinceros temores e arrependimentos sobre sua vida, suas escolhas. E a tristeza no olhar de Hermila, homogeneizado aos aleatórios e dispersos sorrisos (resultado claro do uso de ílicitos), retrata fielmente a crua realidade dessas jovens que, por falta de oportunidade, necessitam vender o corpo para garantir o mínimo de estabilidade financeira. Outro ponto positivo no roteiro é a ausência das "legendas guias", muito comum em produções cujas locações passam de uma cidade para outra; o que seria totalmente dispensável em Deserto Feliz, pois o espectador sabe exatamente quando Jéssica foi para o Recife e, posteriormente, para a Alemanha.

Acertando em cheio na escolha dos atores, o cineasta pernambucano extrai impecáveis atuações de todo o elenco. Nash Laila surpreende em sua estréia cinematográfica, criando um personagem complexo, com aquela chama de esperança tão usual nos jovens se contrapondo às amarguras e angústias vivenciadas por Jéssica. O sempre competente João Miguel mais uma vez arranca risos do espectador, Hermila Guedes revive uma prostituta (Baixio das Bestas, O Céu de Suely) com o mesmo empenho dos trabalhos antecedentes e o alemão Peter Ketnath demonstra enorme segurança interpretando o par romântico de Jéssica, Mark. Todos os demais, apesar de menos tempo de tela, exercem com fervor seus respectivos papéis.

Vencedor de inúmeros prêmios em festivais importantes como o Festival de Cinema Brasileiro em Paris, Festival Internacional de Cinema de Guadalajara e Festival de Cinema de Gramado, Deserto Feliz é merecedor de todos estes reconhecimentos acima citados e é sério candidato a melhor filme nacional do ano. O filme está em cartaz, no Recife, nos cinemas Rosa e Silva e no Multiplex Recife. Corram.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Funny Games US

Remakes sempre me deixam apreensivo. São inúmeros os casos em que o filme original é arruinado pelo sucessor, criminosamente manchando, de certa forma, o nome da produção primeira. No entanto, é surpreendentemente agradável quando uma refilmagem consegue se sobrepôr ao filme antecedente, incumbência essa não tão simples. O que dizer, porém, quando a produção refilmada é praticamente idêntica à primeira, sendo ambas realizadas pelo mesmo diretor/roteirista ?

Michael Haneke copiou, ao pé da letra, seu Funny Games de 1997, adotando as mesmas tomadas, ângulos, falas, trilha sonora e figurino. Apenas dois fatores divergem o Funny Games US (na verdade três, levando em conta a imposição do US na produção hollywoodiana) do alemão: o idioma e os atores. Torna-se questionável, então, a decisão de Haneke em "imitar" seu projeto precedente, cujos resultados foram positivos e deram ao diretor alemão visibilidade mundial. Não enxergo outra questão, a não ser a financeira, que tenha levado o cineasta a optar por esta refilmagem, mas deixemos as razões pessoais de Haneke para outro momento.

Iniciado com uma bela tomada aérea, o filme acompanha uma família que pretende passar um tempo em sua casa de interior, longe da cidade. Porém a traqüilidade quista pela família é logo dissipada com a chegada dos jovens Paul (Pitt) e Peter (Corbet) e seus joguinhos insanos e perversos, gradualmente elevando o "nível" com o decorrer da projeção. Matendo-se fiel até mesmo à mise-en-scéne presente no original, Haneke brinca com o público, criando diálogos (com a reciprocidade, obviamente, dependente de cada espectador) entre o personagem mais ativo e mandante das ações e nós, testemunhas oculares da situação em andamento. Mas, lembrando-nos de nossa fragilidade e incapacibilidade de intervir nas ações dos personagens, o cineasta, em uma determinada tomada, acompanha Paul na cozinha, calmo, preparando um lanche, enquanto na sala ocorre um disparo, gritos e sons de luta, deixando o espectador curiosíssimo e impaciente. E é elogiável a sutileza do diretor ao expôr, sutilmente, a não preocupação de Paul com o estado daquela família.

Escalando um grupo de experientes atores para a produção, o diretor obtém a mesma entrega e intensidade vistas no longa original (interpretados com grande competência por Ulrich Mühe, Susanne Lothar e os demais). Naomi Watts mais uma vez brilha, dosando bem o limite de sua dramaticidade; Tim Roth encarna com eficiência o pai incapaz de ajudar a família; Michael Pitt e Brady Corbet igualmente notáveis como os jovens torturadores e o pequeno Devon Gearhart que, apesar de ter menos tempo de tela, demonstra admirável capacidade dramática.

Contando com um elenco eficaz, Michael Haneke consegue recriar detalhadamente seu filme anterior, com não tanto impacto para os que o assistiram, mas com a competência já usual de um dos melhores diretores da atualidade.


Ficha Técnica:
Título: Violência Gratuita
Título Original: Funny Games US
Ano: 2008
Direção: Michael Haneke
Elenco: Naomi Watts, Tim Roth, Michael Pitt, Brady Corbet, Devon Gearhart
Duração: 111 minutos

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Rocks!

Nesse video um monte de coisa me impressiona.
A voz de Bob Gillespie,ex-baterista do Jesus and Mary Chain(e pra mim a melhor voz do rock n roll moderno), o fato dele ter sido gravado no lendário estúdio da Abbey Road, as negonas no coro...
Gosh!
É uma pena eu ter descoberto essa banda tão tarde.

Crianças, recado importante: Como músico, sou completamente contra o download ilegal de músicas ou de qualquer forma de pirataria. O artista deixa de ganhar dinheiro, gente. E é feio, incostitucional.

O download do Riot City Blues, o melhor disco do Primal Scream e pra muito o único que valhe a pena ser escutado inteiro tá aí. Pra você que não compartilha da mesma opnião que eu.
Ou que compartilha mas baixa mesmo assim, igual eu.

http://rapidshare.com/files/83024357/Riot_City_Blues_2006_.rar.html

Boa noite.

Hello Strangers

Agora mando nisso daqui também. Sou mais engraçadinho e bonito que Alexandre. Mesmo assim gostem mais dele, ele é mais inteligente. Aliás, me apresentar o caralho.

Alexandre é um pernambucano muito massa. Nunca vi o menino na minha vida. Não preciso fazê-lo pra saber que é uma pessoa única, de um gosto refinado como poucos - lamenta-se alguma coisa -, uma sinceridade que às vezes me arrasa e com um coração bem maior que o meu e o mundo. Espero quase pacientemente o dia que a gente vai divagar sobre o mundo por intermináveis horas tomando a cana que ele tanto ama.
O homem paixão, senhoras e senhores.
Amo mesmo.
Boa noite.


P.S.: Esperem sempre por boa noite, só vou postar de madrugada. De dia eu tô de bom humor.
Beijos