terça-feira, 11 de novembro de 2008

Funny Games US

Remakes sempre me deixam apreensivo. São inúmeros os casos em que o filme original é arruinado pelo sucessor, criminosamente manchando, de certa forma, o nome da produção primeira. No entanto, é surpreendentemente agradável quando uma refilmagem consegue se sobrepôr ao filme antecedente, incumbência essa não tão simples. O que dizer, porém, quando a produção refilmada é praticamente idêntica à primeira, sendo ambas realizadas pelo mesmo diretor/roteirista ?

Michael Haneke copiou, ao pé da letra, seu Funny Games de 1997, adotando as mesmas tomadas, ângulos, falas, trilha sonora e figurino. Apenas dois fatores divergem o Funny Games US (na verdade três, levando em conta a imposição do US na produção hollywoodiana) do alemão: o idioma e os atores. Torna-se questionável, então, a decisão de Haneke em "imitar" seu projeto precedente, cujos resultados foram positivos e deram ao diretor alemão visibilidade mundial. Não enxergo outra questão, a não ser a financeira, que tenha levado o cineasta a optar por esta refilmagem, mas deixemos as razões pessoais de Haneke para outro momento.

Iniciado com uma bela tomada aérea, o filme acompanha uma família que pretende passar um tempo em sua casa de interior, longe da cidade. Porém a traqüilidade quista pela família é logo dissipada com a chegada dos jovens Paul (Pitt) e Peter (Corbet) e seus joguinhos insanos e perversos, gradualmente elevando o "nível" com o decorrer da projeção. Matendo-se fiel até mesmo à mise-en-scéne presente no original, Haneke brinca com o público, criando diálogos (com a reciprocidade, obviamente, dependente de cada espectador) entre o personagem mais ativo e mandante das ações e nós, testemunhas oculares da situação em andamento. Mas, lembrando-nos de nossa fragilidade e incapacibilidade de intervir nas ações dos personagens, o cineasta, em uma determinada tomada, acompanha Paul na cozinha, calmo, preparando um lanche, enquanto na sala ocorre um disparo, gritos e sons de luta, deixando o espectador curiosíssimo e impaciente. E é elogiável a sutileza do diretor ao expôr, sutilmente, a não preocupação de Paul com o estado daquela família.

Escalando um grupo de experientes atores para a produção, o diretor obtém a mesma entrega e intensidade vistas no longa original (interpretados com grande competência por Ulrich Mühe, Susanne Lothar e os demais). Naomi Watts mais uma vez brilha, dosando bem o limite de sua dramaticidade; Tim Roth encarna com eficiência o pai incapaz de ajudar a família; Michael Pitt e Brady Corbet igualmente notáveis como os jovens torturadores e o pequeno Devon Gearhart que, apesar de ter menos tempo de tela, demonstra admirável capacidade dramática.

Contando com um elenco eficaz, Michael Haneke consegue recriar detalhadamente seu filme anterior, com não tanto impacto para os que o assistiram, mas com a competência já usual de um dos melhores diretores da atualidade.


Ficha Técnica:
Título: Violência Gratuita
Título Original: Funny Games US
Ano: 2008
Direção: Michael Haneke
Elenco: Naomi Watts, Tim Roth, Michael Pitt, Brady Corbet, Devon Gearhart
Duração: 111 minutos

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