terça-feira, 26 de abril de 2016

lost in you

pra fora
antes que eu morra
pra fora
porque voltei a escrever
eu não quero escrever
quero passar pela vida
sem o peso da literatura
só escrevo quando inundo
por dentro

pra fora
vai embora antes que
eu cancele as passagens
e peça demissão por justa causa
antes que a mobília seja comprada
nas cores do teu cabelo
pode ir sem dó
vai, corre, foge, rasga
voa, plana, sobe, some

pra fora de mim
que já estou ao avesso
órgãos à mostra
pele escondida
alma pra fora
boca perdida

e se na rima
preferires ficar
acalma-te em cima
de mim, teu lugar.

pra flora.


quarta-feira, 20 de abril de 2016

Vida que bate.

enche-me de sal
pois teu mar me hidrata
lava-me de sol
e meu campo forrar-se-á
com teus delicados dedos
complicados meios
percorri até te achar
tantos sinais e sinos
assassinos precisei matar
nasci, morri até te achar
numa manhã gelada de julho
naquela noite sem vento e sem cor
quando o silêncio apagou
todas as luzes da casa
e me expulsou a cuspes.

sem pele, fui
sem barba, fui
com medo
com nada
além desse amor em lava
fui
até te ver nua
coberta com as nuvens
da dúvida
nos olhos, a vida
da cidade
o metrô,
as passarelas,
as meninas de fone,
os senhores com fome,
minhas poesias jogadas
em uma praça sem nome,
tuas pupilas, tuas retinas
escrevendo-me teorias
hipóteses do nosso século
estamos vivos, elas me disseram
e só quando baixei as pálpebras
acreditei enfim


por tudo que respira.





sábado, 9 de abril de 2016

Preste atenção: o mundo é um moinho.

Andar a cidade, torcer para o suor expulsar, minar esse desconforto. Acordei contigo do meu lado, senti tua presença pela casa, bailando pela ponta dos pés. Levantei com a impressão de estar incompleto, sem dentes pra sorrir feliz e despreocupado. Me peguei irritadiço, sem prumo, dirigindo pela cidade que, ao teu lado, parecia filme, cenário de livro, o lugar do qual pertencíamos. Hoje quis sair daqui. Sair de mim, principal causador disso tudo. Senti saudade do teu beijo, mas isso você não precisa saber. Porque do tamanho que é tua luz, reverterás esses dias mais obscuros e voltarás a encontrar tua paz que tanto me acalmou. Eu, não sei. Pode ser da vida acostumar. Hoje queria chorar contigo, na tua frente, pedir desculpas, comprar um hambúrguer, cantar duas músicas, fingir que nada, absolutamente nada de doloroso aconteceu e seguir nosso caminho. Talvez amanhã eu lide melhor com tudo isso. Hoje, não.

***

estou no meio da estrada.
eu sou a estrada parada
eu sou a curva que some
eu sou o asfalto rachado
eu sou o espelho da humanidade
que ainda tenta encontrar o Grande Mapa
para retrilhar o caminho dos perdidos.


****

Levanta a cabeça. Abre bem os olhos. Encara o medo dentro do olho e não tente mandá-lo embora. Ele que fique. Ele que tente começar a gritar. Ele que bata na minha cara. Faça o que quiser. Eu aguento. Que a minha alma suporta tudo.