quinta-feira, 21 de julho de 2016

Winds

estás aqui
ao meu lado
cantando Skank
enquanto aguardamos 
nossa janta
tirei uma foto engraçada
belisquei os pelos
sob teu umbigo coberto
eu poderia ficar até amanhã 
deitado nessa cama
eu poderia vender a câmera 
e comprar passagens sem volta
São Paulo ou São Francisco 
Crato ou Cracóvia
blindar um carro e sair
on the road
on the flow
até completarmos uma década 
e perguntarmo-nos sobre
filhos e casa
até tornamo-nos pais
e esquecermos nossas 
prioridades 
por mim eu vou
voar no balão
que oxigena cada alma
o teu é vermelho
deseja sobrevoar campos
e aterrissar onde mãos 
precisam de sorrisos
tua alma é muito grande
para nossa limitada
geografia
minha tacta retina
foi tocada
atingida em cheio
pela tua 
também tacta
olharmos na mesma
direção 
é contemplar 
onde Deus rascunhou
essa história 
é sentir a brisa
e os cabelos sendo massageados
pelos ventos do amor.


quarta-feira, 20 de julho de 2016

Future leaves.

tomou um café com bocejos
escutou o noticiário
dois homens feridos no metrô
as vidas e seus trilhos
ao morder a bolacha
seca e aberta de ontem
pensou como seria viver
num campo da Grécia
inundado de refugiados que
chegam nos barcos do mar
pombos sambavam voos
quando levantou para morrer
mais um dia naquela agência
carimbando fragmentos de
vidas resumidas a papéis
somos vacas que falam
pensou assim calado
somos os encarroçados
mas o verde do céu
e o azul da terra
há de nos engrandecer
nos dias anoitecidos
pelos tecidos da existência
humana, não mais homens
de porcelana
o retorno do Cristo
vestido pelo Sol
e as bolas de fogo
não serão nada além
do que respingos no ar
a arder
e latejar.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

na selva, na relva da noite.

the brain's rain
slowly swallowing
my eyes blue eyes
river inside a head of stone
just saw it coming
darkshines and a fear
the jealous untied
like a shirt with no bottoms
on a day with some rain
feel the flood
I'm writing to my
sweating hands
defetead man
but look aside
watch a born
crying that makes you smile
a world of receptivity
rise and fly
you'll be a man
you'll be a woman
life's not a novel
but you should read it

can we get lost
or morir
sin espada
numa estrada
que não leva
a nada?

segunda-feira, 4 de julho de 2016

registroati.

Nestes colares artesanais de palavras, meus dedos se pudessem borrifariam o perfume que você mais gosta em cada vírgula, cafuneariam os parênteses para se transformarem em almofadas aos teus cabelos cor de acerola. Debaixo de uma cachoeira, um dia, senti teu colo que eu só conheceria mais tarde, a me acarinhar as panturrilhas com as digitais mais amorosas. Há tempos percebi teus passos, teus pés que pisavam num terreno com cercas, teus pés que corriam, mas não voavam. Há tempos, à distância, vi a águia dentro do teu peito repousar à espera de vento. Trouxe-te um vendaval. Abri também em mim os janelões da liberdade, aquela batizada longe de templos e condomínios. Para te contemplar por inteira, reluzindo desejo de nascer de novo (porque, na vida, há inúmeras placentas).

Recomeço a partir de um reencontro. Já vivemos tudo isso? Talvez já caminhamos pelo centro do Recife de antigamente. Talvez perdi o emprego, quando a guerra nos dividiu em continentes. Quem sabe não corri, escravo, atrás dessa índia de olhos amendoados? Podemos ser nós, por que não, personagens de algum livro que desconhecemos. Nosso passado guardado nas bibliotecas. Abençoados os que esquecem, pois desfrutam do prazer de imaginar.

Numa vida de tantas notas, escritos, reportagens e postagens para outros verem, apenas uma narrativa pulsa como nenhuma outra. A escrita com os caracteres da alma, que alguns chamam de o maior sentimento habitante da humanidade. Ao amor, um texto não basta. Ao amor, uma vida não basta.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

das flores que eu olhei...

nos jogos de azar
a gente perde
quase sempre
dados perversos
o sarcasmo dos números
que não creem em você.

nos jogos de atar
a gente tenta
embolsar felicidade
acorrentar sorrisos
e fechamo-nos mudos
em mundos miúdos demais.

nos jogos de amar
nestes sim
os silêncios são lençóis
competição apenas de lábios
alimentados no leito desse rio
de beijo que entorna o mar.

a louca ternura
a tenra temperatura
dois corpos xilogravados
da boca à cintura
espasmos pelas manhãs
que noites não existem
tudo luz
tu, luz
luz, eu
sol, nós.