sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

tua vida.

acham que sabem
onde repousas tua alma
perdem tempo, fedelhos
e gargalham de si próprios
cheios de diagnósticos
sobre teus passos que só de longe observam

nada sabem
da verdade e tua pele
que repele tais olhares
avinagrados
são tolices
o que pensam sobre ti
a ira porque
queriam tocar teus pés
deitar em teu colo e
desligarem-se do mundo

se pudessem, criariam um espetáculo
apresentariam aos teus olhos-de-bronzita
teriam só pra si os aplausos
destas mãos calmas nuvens
mãos hoje minhas
que limpam a terra podre
do meu peito
quando volto para casa
no fim do dia
depois de mais um
fim do mundo

te vejo
do alto da tua atalaia
decifrar capítulos do nosso mundo
fragmentado pelos anos
te espreguiças,
despencas na rede e
os sonhos ganham vida
és vida
és única
caminhas, não te esqueças:

your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.



terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O som de bombas dentro de um quarto

E volta-se à estaca zero, dedos percorrendo o teclado claro do notebook, a vida retorna à literatura quando a realidade nos mastiga. Recomponho-me. Não tenho mais idade para desequilíbrios emocionais, pueris, os medos entre os dedos trêmulos de quem escreve como se deve: para sobreviver. Danem-se manuais, crônicas de amor reescritas tanto quanto artigos científicos, poemas com notas de rodapé. Mas preciso me recompor, não adianta querer agredir (como eu quis), querer matar (como eu quis) essas noites sentenciadas pelo lodo dos séculos. O esgoto da humanidade, aterrado pelo progresso ou simplesmente ignorado por nossas cabeças sempre distraídas. A Era das distrações em massa. O espetáculo dos desatentos, no globo da morte que é o planeta, a rodar sob o vácuo de um universo inalcançável, rodar, rodar, peregrinamente dar voltas e mais voltas. À estaca zero.

No passado e na ficção, dias de horrores, prazeres intermitentes, buscas por respostas e afirmativas cravadas com ponto final. O quanto sabemos? Se lêssemos as prateleiras de todas as bibliotecas, se nos entregássemos aos labores empíricos do campo e da cidade, quanto saberíamos realmente? Não lhe incomoda ter consciência plena dos nossos limites? A liberdade inventada para nos alegrarmos com as amarras; piscinas são cópias de lagos, condicionadores de ar são cópias do vento na montanha, filmes são cópias de nossas ilusões.

Quem desce às correntezas do ser antevê o infinito e seus tentáculos. Como nos primeiros milênios, ainda morremos de medo. Tateamos pelas florestas internas, engatinhamos, ainda choramos como bebês. Nunca cresceremos? Preciso , preciso me recompor e deixar que a vida me embriague até apagar. Olho as veias em relevo nos braços: aqui corre sangue, aqui escorre. Venceremos a vida? Ou continuaremos a viver?