sábado, 26 de novembro de 2016

teria o direito?

eu que leio os últimos jornais
eu que dirijo com segurança
eu que bato o pé e mordo
eu que lambo com gosto
eu que vibro na alegria
eu que encolho na tristeza
eu que peço menos gritos
eu que apago na claridade
eu que me obrigo a cumprir
eu que deixo por fazer
eu que mudei tua vida
eu que você não quis ver
eu que sinto tanto mar
eu que cedo meu corpo a estranhos
eu que vejo os desertos do inferno
eu que limpo a mobília da casa de Deus
eu que nunca mudarei de nome
eu que fui atirado nas covas como Daniel
eu que tateio as utopias de paz
eu que me torno violento,

teria o direito
de abraçar teu corpo
enxergar tua alma
amar espírito&pele
sem precisar me explicar?

(de dentro do teu quarto te observo dormir como nos primeiros dias de nossa estada no Paraíso de manhãs verdes e continentes agrupados pela sorte de existir o destino).

domingo, 20 de novembro de 2016

artevista

pintaria telas inteiras
as curvas da via láctea
dois cães a caminhar
sobre as águas
termais da Antártida
o veludo vermelho
no céu entardecido de calor
cada dedo uma cor
deslizando sobre o branco
arte nascida das digitais
para colorir teus anseios, seios
e seiscentos meios de sorrir
para mim, pestanas cansadas
discorreria sobre o mundo
e como o sexo era tratado
na metafísica de Schopenhauer
as mãos de tinta
um mutirão de quadros
pintaria telas inteiras
só pra dar sentido aos teus
dias mais intranquilos
o mundo lá fora como um filme
podemos pausar, quer ver o final?
não gosto de estragar
surpresas no roteiro
a vida e seus monitores
ao nosso redor
sentaríamos nus e preocupados
com a falta da tinta rosa
olharíamos as primeiras horas
da manhã
e teus cabelos,
ruivos de sol,
completariam
os ciclos que nunca se fecham

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

placas.

as leves estranhezas
o suco amargo das
impaciências
ao fim do dia
no meio da tarde
em frente ao computador
eu que preciso ler
eu que preciso corrigir
o texto dos outros
escrevo e me refugio
de tantas merdas
o gosto de esgoto na boca
as leves impurezas
que compõem o ser humano
elementos básicos
de toda a literatura mundial
escrevemos sobre excrementos
aquilo que o corpo expulsa
aquilo que não podemos fazer na frente dos outros
o que farias, leitor
se me visses agora
liberto das bijuterias poéticas
dest meu textículo?
as leves asperezas
entre um homem e uma mulher
crianças com facas afiadas
um sono entrecortado
pela pele a lixa (a arranhar)
pelos pelos o lixo (nosso ar)
administre-se
precavenha-se
depile-se
case-se
siga as instruções
feitas por quem se perdeu
olhe além, e veja se vê
algo além de mim.