domingo, 26 de abril de 2009

Same old story.

Da quietude veio Eleonora, que já havia crucificado Cristo uma vez. Jesus, agora imberbe, transformava em vinho todo líquido despejado em suas mãos, contrariando o gosto etílico de Eleonora. Ela, por sua vez, o contrariava a sua maneira. E como ela era experiente, Pai. Jesus se desnorteara. Nenhum sinal de Deus, do Espírito Santo. Era apenas ele e Eleonora. Ou melhor: era apenas Eleonora. Indagava-se continuamente sobre o paradeiro de seus discípulos, em vão. Percebeu que todos decidiram imitar o triste final de Judas. Nas árvores, tornaram-se galhos, intermediados por uma corda. A facínora Eleonora sentia medo. E um sentimento de vingança, talvez. Convivera uns meses com Lúcifer, cujo amor era a bateria de seus dias descarregados. Mas o anjo renegado possuia outras metas, outros sonhos que divergiam completamente e em nada tinham relação com a, até então, menina. A displicência infernal criou em Eleonora desconfiança e medo, além da permanência de um amor ensanguentado. Não confiava em palavras afetivas, gestos simbólicos, nada. Sempre na retaguarda, qualquer indício de aproximação sentimental era desviado pela frieza da, agora, mulher. E, sim, respirava medo. Quando teria, novamente, aquele brilho nos olhos que tanto a fez agradecer ao Senhor pelos minutos que deslizavam sorridentes? O medo da solidão transformou Eleonora no que hoje ela é. Caberia a Jesus julgar? Não mais.

O filho do Homem maquinava na mente o caminho menos sofrível. E nenhuma, nenhuma das opções aceitavam a ausência de Eleonora. Eleonora era o antídoto. Sem sua dose diária, o planeta sofreria as consequências de um segundo sacríficio de Cristo, dessa vez na calada. Nem discípulos, nem relatos bíblicos para tornar belo o ato do rapaz de 33 anos. Agora, a realidade seria crua e corrosiva. Porque não há beleza alguma em morrer por amor.

3 comentários:

Gabriela Alcântara disse...

E, sim, respirava medo.

e há uma beleza suprema em morrer por amor.

Luiza Judice disse...

Não há beleza mesmo em morrer por amor.
Talvez aos olhos dos outros...

:*

Aprendiz do amor disse...

Amei o final!tudo depende do lado da situação na qual está. adorei!
Texto forte. :)