sexta-feira, 7 de agosto de 2009

sacramento.

escoltado por anjos insepultos
daqueles sem céu
entrei na igreja e levei o padre ao chão
dois disparos, quase sincrônicos
como os gritos dos fiéis presentes
que inundaram o chão da casa do Pai
de saliva, lágrima e medo

meu corpo febril transpirava
água benta de sangue
enquanto Alice, atordoada
debruçava-me os braços arrepiados
e me permitiu amar, pela segunda vez na vida
exumado por completo

senti certo receio
mas nada me impediria de tocá-la naquela noite de libertação
suas brandas mãos de mãe
a ternura impura
abençoando-me da cabeça aos pés
com os lábios, os mesmos que puseram pra dormir os filhos
infinitamente deslizantes

bebíamos o vinho das cerimônias
na garrafa, ou no corpo um do outro
no momento em que a polícia estacionara em frente ao local sagrado
a sirene incumbida de sino
nos alertando sobre o perigo
mas a surdez alcoólica consumira nossos tímpanos
e o universo alarmava em silêncio

então ouvimos os passos, próximos,
e o tintilhar das algemas nervosas que anseavam por meus pulsos
Alice ordenou minha fuga e, pela janela, pulei até pisotear a rua com firmeza
a mesma que me fez tirar a vida do presbítero pedófilo
antes que sua batina acolhesse outro inocente corpo nu
e mais uma vida fosse para sempre marcada

em nome do pai, do filho, do espírito santo,
amém.