sábado, 20 de março de 2010

it's happening

sempre chega o dia
onde a odisséia festiva dos homens é desativada
como uma bomba-relógio que esquece da existência do tempo
a sentimentalidade insana e controversa
regressa
aos lares das perfeitas famílias mutiladas
não há membros completos
o filho não mais ri ao pai
dois irmãos vagam de bocas costuradas
a mãe trai
todos eles, criminosos que o sistema não pune,
lamentarão infinitamente suas atitudes
e o peso cairá em seus ombros como um trator ribanceira abaixo
um viaduto de dor partido ao meio, onde também me encaixo.

consigo ver
antes que anoiteça
a ferocidade das próximas horas
pressagio aquele destino inevitável dos errantes
desço à praça em busca de calma
minhas chagas perpetuam a insônia
há meses não sonho, nem pesadelo
ninguém se apercebe
restaram os venais
amontoados num porão de afagos pré-pagos
que se desfaz, caso não traga lucros
o perito oculta
a campainha silencia
a informação esconde as evidências de uma conclusão indesejável
e o cigarro do cotidiano apaga-se com maestria
antes que amanheça
desejo um momento de veludo, macio e sereno, antes da guilhotina irreparável.

a praça atenua o tormento.

o hálito de estômago vazio me lembra
a fome é impaciente, como eu
subo as escadas no ritmo solar
todas as portas de todos os corredores estão entreabertas
um rottweiler rói o fêmur de seu antigo dono
no nono andar
o sangue da senhora do 1003 escorre até onde piso
chego, décimo primeiro, meu último esconderijo
um antílope descansa em meu sofá
seu olhar virulento é como uma expulsão
apenas apanho a carteira, por força do hábito
e sento para descansar
ao lado do leão.

amanhã estarei longe, mais perto disso tudo
uma jornada termina, outra tem início
o universo é rotativo, rotineiro roteiro adverso
e por já saber o desfecho, por precaução me despeço.

2 comentários:

Diego Blues disse...

eh o q acontece

Lorena Tabosa disse...

somos mesmo todos criminosos... e confessos!