domingo, 13 de junho de 2010

chapter.

Esperei do lado de fora, sentado numa espaçosa cadeira rubra, em frente à recepcionista do gabinete do Senador. Era de madeixas democráticas, partes louras oxigenadas, outras de um negro natural charmosíssimo. Nas pálpebras, uma tintura violeta, clara e humilde, como quem finge não chamar atenção, que combinava perfeitamente com duas rosas postiças decoradas na sua mesa em L. Atendia aos telefonemas com delicadeza cinematográfica, declamando bom dia como um sopro, em suspensão, meus olhos salivavam ao som daquela melodia fulminante. Serenamente atordoado, lutei contra a impulsão que pulsava dos calcanhares ao crânio, aquela vontade quase assassina de olhar sem intermitências o decote desafiador. Poder repousar minha carne naquela pele de veludo, qualquer pedaço que fosse, e meus testículos exumariam paz. Apanhei a agenda da bolsa, subitamente, e comecei a escrever sem controle, como um psicógrafo. Não faço a menor suspeita do conteúdo do texto por, em seguida, desmatar a folha e transformá-la em bola, arremessada no cesto de lixo mais próximo. Trêmulo como uma bandeira ao alto, redirecionei a vista à miragem divina, me encarava por cima do monitor, dois faróis de xenon incandescentes, permaneci estátua, aceita uma água, café, eu não tinha respostas, alguém por mim disse sim à primeira opção, e ela levantou-se, sincronizada com meu pênis. Dobrei as pernas, ela curvada enchendo o copo, a cueca me sufocando, obrigado, ela abriu um sorriso acanhado e vadio, enquanto de um só gole esvaziei o vidro cilíndrico. Perguntei onde era o banheiro, querendo chamá-la comigo, no final do corredor, que percorri me equilibrando nas paredes. Fechei a porta de chave, sentei vestido no vaso e respirei. De olhos fechados, fundo. Confesso que a ideia de masturbação me visitou, mas como um absurdo, eu estava em horário de trabalho e, se fosse para gastá-lo com algo do tipo, que fosse dentro da recepcionista. Enxaguei a cara, ainda podre. Ao retornar à sala, o Senador havia saído, estava ao lado da porta principal me aguardando para o início da viagem. Vamos, quem é coxo parte cedo, e girou a maçaneta, ela acenava, não para mim, mas fui recíproco ao meu desejo. Ela então pôs o olhar em mim e mostrou a dentição, até logo, eu repeti, teria que rever aquela mulher, marcar um jantar, fodê-la num motel além das minhas despesas, valeria a pena. Vinho, bobó de camarão e sua boceta morna a me abrir o apetite. Viajei imaginando a volta, uma orca encalhada na cabeça, tanto peso que adormeci. Na loteria dos sonhos, acertei meus pais no aeroporto, vibrávamos o alcance de algum objetivo jamais esclarecido durante a quimera. Papai gargalhava fumaças e tosses, de óculos escuros e com o terno branco que sempre apreciei, enquanto mamãe gesticulava como um professor, relatando histórias da minha infância de modelo. Eu ria como menino, sem precaução no volume, e eles não me censuravam, apesar dos olhares reprovadores em volta. De repente uma voz remota brotou no ar, vocês precisarão pegar um atalho, a estrada foi interditada há pouco, era um policial rodoviário. Acordei babando, o motorista do Senador já entrara no caminho de barro. Aproveitou para uma pausa. Mijar.

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