quarta-feira, 24 de agosto de 2016

todos os dias o amor diz obrigado.

Um mar de peixes luminosos sob nossos pés e olhos. Do alto da serra, víamos a cidade anoitecida. De corações quentes, ríamos do frio que ultrapassava os casacos e não perdoava minhas orelhas. Eu me sentia aquecido, boiando numa calma piscina de chamas agradáveis que não queimam, mas fazem florescer. Deve ser assim, depois da vida, quando as almas se encontram no sol e o que eram braços se tornam raios e luz.

Nas esquinas da cidade, o mundo espalhado em sotaques do leste europeu, nas bochechas rosadas dos jovens da Inglaterra, dentro da profundidade do olhos de africanos. Nós, em meio ao mundo espalhado num só lugar, observávamos cada faísca de alegria, os gritos das torcidas, hinos também. Também o silêncio de quem estirava a mão e pedia um pouco (de atenção e de dinheiro, nesta ordem). Eu sentia meu peito inchar, encher-se de humanidade, da maturidade que vem com a experiência. E, acima de tudo, sorria, quando olhava para o lado. 

Porque ali, de gorro e calça jeans suja de sentar no chão, você abria aquele sorriso quando eu falava algo pornográfico mais alto, pra te constranger. Eu me preocupava com as exigências profissionais, mas tua mão no meu cabelo assanhado me puxava de volta para a piscina de chamas agradáveis, onde testas não se franzem. Em alguns momentos, eu pulava da piscina para me trancar nas cavernas que ainda se abrem em mim. Mas voltava, mais leve, mais peito, mais perto como nunca de você. 

Crescemos. Como par, como seres humanos. Cresceram a amizade, a união. O amor. A vontade exagerada de não querer largar. O sentimento bonito de caminhar pelo outro, sem que isso anule nenhuma individualidade. Sem perceber, arrumando a mala ou dividindo os trocados para lanchar, nos mudamos para um novo mundo, arquitetado por nós mesmos. Em meio a tantos mundos, o nosso, em constante movimento circular e recíproco de querer bem. 

Saber que seguiremos me faz acordar alimentado pela calma. Vou baixar aquele CD, sem te dizer, pra te pegar de surpresa quando você ouvir que nothing's gonna hurt you, baby. Vou comprar nutella e bolacha e deixar na mochila pra quando não der pra almoçar. Vou morder teu pescoço pra ouvir você falar "isso" quando eu não quiser saber de mais nada que não importa. 

Cheguei em casa e ainda não desarrumei a mala. Você sabe o porquê.

2 comentários:

Unknown disse...

Você é incrível e eu te amo muito!! 💜

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.