sexta-feira, 28 de outubro de 2016

breathe.

sobreviver aos murros
morros de reprovação
mirar de longe a vida
ajustar a vista, o joio separado
o que não se recicla
reinventarmos
as estações do ano
e as manchetes de amanhã
relermos os livros
sem os pontos finais
sem queimá-los
como no futuro imaginado de Truffaut
quantas placas de proibições
quantas éticas de papéis
ainda se levantam muros
cercas acerca de nós
obrigatoriamente
deixar a barba crescer
obrigatoriamente
cobrir mais o corpo
obedecer
senão a morte ronda
o perigo em cada quarteirão
nas esquinas da mente
monstros devoram corações
moinhos de meninos
reclamávamos das mesmas coisas
no século passado
gritávamos nas mesmas ruas
em busca do sentido
o trêmulo equilíbrio de quem contesta
é bom ir com calma
senão a morte ronda
e os vasos quando quebram
e os vidros que estilhaçam
são recolhidos à pá
e jogados no lixo.