terça-feira, 31 de março de 2009

É, Marte. Fica por aí mesmo.

Sustentáveis, só os fuzis. O cheiro proveniente dos campos é inconfundível. A areia ensanguentada, a pólvora, os excrementos, os cadáveres, tudo liquidificado em uma só cavidade. As folhas, mortas também, deslizavam em uniforme. Nada, na guerra, tem vida. Os gritos não comprovam a existência de vida, mas sim sua ausência.

Numa rara tarde, enquanto sentia pingos de chuva em minha nuca (ou eram de sangue?), me deparei com algum tipo de magnólia, enraizada naquele terreno arenoso, observando, na sua solidão, os feridos que por ali passavam em direção à enfermaria. Pensei em colhê-la, mas preferi deixar intacto. Talvez, dali, ela pudesse florescer, nos corações humanos, a serenidade necessária para um convívio em paz.

Minutos depois, fomos atingidos por uma bomba. Escapei por pouco. Ao me virar, percebi que o explosivo tinha caído exatamente nas proximidades de onde a flor se encontrava. Voltei, desolado, ao meu posto. Nossa artilharia já entrara em combate, em seguida seria minha vez. Disparos confundidos com berros. Companheiros desmembrados, inimigos implorando por ajuda.

E eu, da trincheira, avistando a tal liberdade.

Um comentário:

Gabriela Alcântara disse...

já eu, peço o contrário. não para de escrever nunca, tá alexandre? é sempre bom ficar maravilhada lendo os teus textos!
(apesar da vergonha que sinto dos meus diante dos teus)