quinta-feira, 8 de abril de 2010

se pa ra ção.

"Com enorme lástima registro-lhe o final de um planejamento. Após recentes episódios de indignação, deixo o cargo no qual construí um nome e cuja durabilidade revivificou meus sentidos, minha interpretação de vida. A incorrigível eiva crescida entre nossas opiniões tornou a vivência sinônimo de morte, esfacelando amizades intocáveis, como a demolição de uma montanha. Enquanto capsulavas a nitroglicerina da realidade, permaneci atento, como um estagiário sedento por aprendizagem, e, de porta em porta, tentava apreender o máximo de ensinamentos tidos como dádivas oferecidas em troca de nada. Meu desempenho não mais foi que irregular, acertos e erros, mais os segundos, mas a falta de compreensão lesou a força de iniciante que em meus pulsos palpitava. A cada acerto, um erro apontado. E o núcleo, nosso núcleo, dissipou-se em meio às angústias, aos prêmios, quando a maior conquista era renegada ao comum, 'todos têm amores', você afirmava inflexível.

O casamento foi um erro. Necessário, como hão de ser os equívocos, mas dor tamanha derrubaria dragões num sopro, sem fogo. Nunca desejei que chegássemos a tal nível. Olhar teus olhos outra vez e dizer pela boca tudo isso, contudo, seria como me crucificar. A casa é sua, sempre foi. Como pode ver, retirei meus objetos pessoais, os vinis que tanto causaram discussões, e espero não ter esquecido nem uma tampa de caneta. Porque o que eu quero esquecer e superar continuará sobrevivendo neste local cujas entranhas jamais desejo voltar a adentrar. Adeus e siga em frente. A vida é muito mais do que eu e você".

Assim, pus fim a 3 anos das mais tortuosas noites que enegreciam os dias, raros como sorrisos verdadeiros. Larguei o texto escrito à mão em cima da mesa da sala, onde tomei uma taça de vinho pela última vez. Em um só gole, esvaziei o que de concreto ainda havia naquele lugar.