domingo, 30 de maio de 2010

abre los ojos.

Apedrejador como a alma
O rancor instalou-se em mim
Triturador de amor sem fim
Cujo tambor jamais se acalma.

Estilhaços caem sem ti
Conturbados, cem pedras no caminho
Gigantesca coroa de espinho
Como agulhas, em choro, senti.

Nas orelhas, tímpanos rasgados
Sal de lágrima na boca seca
Em chamas o peito, interminável enxaqueca
Panturrilhas e pés afundados.

A farta desnutrição das vinte e quatro costelas
À vista, como ponto turístico
Meus sorrisos tão característicos
Perderam-se à procura dos dela.

Onipotente brancura de luz
Agasalho da minha escuridão
Ao faminto, uma migalha de pão
Que o esôfago ao estômago conduz.


Tolice.

Menti em cada sílaba desses versos inúteis, estúpidas rimas pré-fabricadas, não há um fio de náilon verdadeiro nessas linhas patéticas. A verdade é que tento transparecer algo inexistente, o maior amor do mundo, o maior sofrimento do mundo, lamentações insignificantes. Sigo meu déficit, que às vezes chamo vida, tentando arrumá-lo como alguma história digna de ser contada; ninguém leria, se soubessem o quanto teatralizo, se só pudessem enxergar a vaidade, somente ela, enroscada em cada vírgula posta cautelosamente. O magnífico da literatura é poder transformar em vulcão ativo uma simples chama de vela. E, gostem ou não, há algum brilho no meio disso tudo.

Um comentário:

Luiza Judice disse...

O magnífico da literatura é poder transformar cada simples chama de vela em um vulcão ativo, também ;)

Lindo, Alex!
:*